“Arcana Famiglia” é só mais uma adaptação comum de um “otome game”, e desavisados sairão frustrados caso se deixem levar pelo conteúdo de sinopses
Ano: 2012
Diretora: Kon Chiaki (“Higurashi no Naku Koro Ni”, “Junjou Romantica”, “Nodame Cantabile: Paris-hen”, “Otome Youkai Zakuro”, “Umineko no Naku Koro Ni”)
Estúdio: J.C. Staff
Episódios: 12
Gênero: Comédia, Drama, Romance
De onde saiu: Visual novel para PSP.
*****
Entretanto, Felicità bate contra a decisão do pai, e após uma discussão fica resolvido que ela terá de vencer o Arcana Duello caso não queira se casar. Além disso, dois jovens membros da família, Nova e Libertà, mostram-se interessados em ajudar a garota a retomar sua liberdade, prometendo ganharem o torneio sem, contudo, obriga-la a se tornar sua esposa. Juntos, os três têm poucas semanas pela frente antes do início da disputa, e precisarão usar esse tempo tanto para conhecerem um ao outro, quanto para aprenderem a usar melhor seus poderes.
E, assim, “Arcana Famiglia” conseguiu criar expectativas erradas em quem ignorava a sua origem – sendo que, mesmo aqueles que sabiam se tratar da adaptação de um jogo feminino esperavam algo diferente do que é geralmente visto nessas produções, e o primeiro episódio auxiliou bastante em aumentar tal ilusão. A partir do segundo episódio, contudo, o anime mostra o seu verdadeiro material: uma história cotidiana que foca precisamente nas relações de Felicità com dois integrantes (duas rotas do jogo) de seu harém, Nova e Libertà. Lutas, ação, ritmo frenético? Não, não, não - na verdade sim, para ser exato, mas em situações bem isoladas e em cenas nada empolgantes.
Felicità no começo até esboça a ideia de que será uma heroína fora dos padrões, enérgica, decidida, nada bobinha ou apática; mas rapidamente percebemos que, pois é, como toda protagonista de visual novels desse tipo, ela está longe de ser a personagem de maior desenvolvimento da trama – vinda de uma obra voltada às mulheres, ela não deve se destacar mais do que os belos rapazes que a rodeiam. Estes, por outro lado, desde os primeiros segundos do anime assumem abertamente suas personalidades genéricas, do bonitinho delicado e ingênuo ao “bad boy” misterioso de poucas palavras, tendo como principais o alegre burrinho de passado violento – Libertà -, e o reservado antissocial – Nova - (que, segundo os moldes criados sabe-se lá quando ou por quem para esses games, deve quase sempre ter cabelo azul curto e carregar problemas familiares). O comparando com outros animes que saíram da mesma fonte recentemente, “Arcana Famiglia” tem a seu favor o fato de sabiamente não ter tentado dar importância e espaço aos dramas pessoais de todos os integrantes do harém, visto que tal abordagem poderia ser desastrosa para uma série de 12 episódios - “Uta no Prince-sama” em 2011 cometeu tal abuso, narrando seis histórias de seis rapazes em 13 capítulos, e o resultado disso foi horroroso (não financeiramente, já que o anime vendeu muito e uma segunda temporada está por vir). Porém, “Arcana Famiglia” se torna, mesmo dentro de seu gênero e considerando seu público alvo, em um anime fraco e ordinário, cujo ritmo letárgico e a preguiça e falta de atrativos no enredo muito testam a paciência do espectador em aturar a animação até seu final.
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Creio que o último parágrafo deixou claro como “Arcana Famiglia” não se esforça tanto para ter um enredo minimamente inventivo; culpa do material raso da tediosa obra original, pois o anime é fiel o quanto é possível ao seu conteúdo (ironicamente, esse pode ser visto como seu principal “erro”). Apesar de tentarem fazer com que seja sensível o progresso – se bem que às vezes há alguns retrocessos, e em outras empurram isso com certos diálogos e acontecimentos afetadíssimos, destinados unicamente a arrancar suspiros femininos – da relação do trio protagonista por meio dos fatos que ocorrem, tudo na realidade permanece revestido com uma falsidade e mesmice imensas; não importa o que façam, Nova ainda é um personagem que parece sempre emburrado com alguma coisa e Libertà não deixa de ser um bobalhão alegre e barulhento, isso sem falar de seus companheiros que, diferente desses dois, mal tem espaço para fingir que mudam ou mostrar que possuem mais do que frases e ações mecânicas e rostinhos bonitos. Felicità, por sua vez, vai se tornando cada vez mais uma menina débil típica do gênero, na qual seu maior feito é talvez sair por aí fazendo perguntas pessoais a todo mundo – intrometida! -, e lutando de vez em quando contra ladrões sem cérebro para passar a impressão de que não é uma mocinha delicada e passiva qualquer – pelo menos, não se transforma numa daquelas que cai direto em armadilhas e precisa ser salva a cada episódio. No final, homens e mulheres poderão se interessar antes pelos populares seiyuus e o “character design” chamativo dos personagens femininos e masculinos do que por suas personalidades frias, porque - outro ponto a favor da J.C. Staff – o anime exibe um trabalho competente e atraente nesses quesitos – e no caso da arte tinha de ser assim, visto que falamos de algo saído de uma visual novel, que tem suas animações como principal apelo para atrair consumidores.
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Em seu final - sendo mais exato, em seu último terço -, “Arcana Famiglia” joga as cartas na mesa e tira de vez qualquer dúvida que possa ainda ter ficado a respeito de seu enredo: o desapontamento só não é maior para o espectador porque este, se chegou a esse ponto, deve ser porque ser conformou em ver simplesmente a história de três jovens se apoiando e superando suas fraquezas – quem erroneamente esperava apenas por uma obra movimentada com lutas “abandonou o barco” muito tempo atrás, ao se deparar com resgates de gatinhos e eventos beneficentes. Por mais miserável e questionável que seja o teor de sua história, a série pelo menos tem a decência de concluí-la; contudo, o episódio final falha ao apresentar de forma corrida e mal feita aquilo que era tão aguardado desde o começo, além de se acovardar no desfecho das principais complicações da trama, complicações essas que possivelmente eram o que animava a maioria em continuar a ver o anime. “Arcana Famiglia”, a despeito do enganoso primeiro episódio, se faz explícito quanto a com quem ele quer dialogar e de quem quer chamar a atenção: e para estas verem, em um anime visualmente apelativo, jovens galantes e pomposos se curvarem e fazerem de tudo em prol da amada é mais que o suficiente – como isso irá acontecer fica em segundo plano.
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Nota: 4
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